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sábado, 22 de março de 2014

Recomendações dietéticas baseadas em evidências de literatura



Uma troca equivocada

Uma das ideias mais comuns associadas a boa alimentação diz respeito a escolha por alimentos com pouca ou nenhuma gordura. As prateleiras nos supermercados estão inundadas com produtos desnatados, livre de gorduras, diets e etc. Uma questão elementar é que não existem alimentos desnatados, light ou diets na natureza. Essa escolha reflete sempre uma opção por um produto artificial, modificado pela indústria alimentar.
Mas poderíamos dar um crédito: a boa vontade de se disponibilizar para as pessoas opções mais saudáveis e seguras. Mas isso é de fato necessário e verdadeiro?
Um recente editorial do jornal online Open Heart (associado ao respeitável British Journal of Medicine - JBM), redigido por um pesquisador em saúde cardiovascular, Dr. James J DiNicolantonio, faz um enérgico questionamento sobre a opção Low Fat - alimentos com menos ou nenhuma gordura. 
O título do editorial é: As consequências cardiometabólicas da substituição de gordura saturada por carboidratos ou óleos poliinsaturados (ômega 6): estariam as diretrizes nutricionais equivocadas?

História das dietas com pouca gordura

Tudo começou com o pesquisador Ancel Keys, que nos anos 50 publicou estudos relacionando a quantidade de gordura dentro do consumo total de calorias de populações com a doença cardiovascular, e embora não exista associação estatística válida entre consumo de gordura e mortalidade, e muito menos prova de causalidade, as propostas de Keys foram amplamente aceitas, e parecem ter nos guiado pela estrada errada da nutrição nessas últimas décadas.

As conseqüências da troca de gordura por carboidratos

As propostas pela troca de gordura saturada e colesterol por carboidratos nas Metas Dietéticas para os Americanos, (Dietary Goals for Americans) foi publicada em 1977, o que foi baseado na premissa (inexata) de que o consumo de gordura saturada aumentaria as taxas de colesterol e resultaria em maior risco de doença cardíaca.  Ainda mais: considerando que a gordura é o macro-nutriente mais denso em energia, sua redução implicaria em redução das calorias e “naturalmente" iria reduzir a obesidade, diabete e síndrome metabólica. Entretanto as coisas ficaram piores, os dados disponíveis revelam que de fato o aumento do consumo de carboidratos foi o fator causador da epidemia de diabete e obesidade nos Estados Unidos.
O autor relata que quando estudos bem estruturados comparam dietas com baixo teor de gordura com dietas com baixo teor de carboidratos, ambas relativamente com poucas calorias, é a alimentação com pouco carboidrato (low carb) que traz mais benefícios: 
Melhora nos perfil de gordura corporal (cintura abdominal, massa gorda);
Melhora no perfil lipídio (triglicerídeos, apolipoproteína B);
Melhora na tolerância a glicose;
Melhora nos marcadores inflamatórios;
Melhora nos marcadores para trombose.
Adicionalmente, na dieta com redução de carboidratos melhora as taxas de colesterol HDL (o “bom”), melhora a relação entre as Apolipoproteinas (ApoB/ApoA) e reduz as partículas pequenas e densas de lipoproteínas (sdLDL), aspectos que pioram nas dietas com redução de gordura. Além de aumentar os triglicerídeos.
Como conclusão dessa parte o Dr James fala de vários estudos bem encaminhados em que a redução do consumos de carboidratos deve ser a escolha para reverter a epidemia mundial de obesidade, arterosclerose, diabete, doença cardíaca e síndrome metabólica.  

As conseqüências da troca de gordura saturada por poliinsaturada

A política de trocar gordura saturada pela poliinsaturada levou ao aumento do consumo de gordura trans e ômega-6. Vários estudos mostram que isso aumenta o risco de mortes. Por exemplo o The National Diet Heart Trial, mostrou que dietas com mais omega 6 tem um número maior de eventos cardiovasculares. Assim estaria associada a uma maior mortalidade total.
O ômega-6 estaria associado também a promoção de câncer, supressão imunológica, redução do colesterol HDL e deixa o colesterol LDL mais suscetível à oxidação (fator de doença cardíaca). Evidências adicionais associam o ômega-6 com câncer de próstata e de mama. 

Falta de evidências para dar suporte as dietas com baixo teor de gordura

O autor finaliza seu editorial citando que não há suporte científico válido que validem as dietas com redução de gordura. Por exemplo, um estudo publicado na revista médica Lancet, sobre dieta com redução de gordura e infarto do miocárdio, mostrou que embora a alimentação com menos gordura e menos calorias totais tenham reduzido peso e taxa de colesterol não houve diferença entre os grupos para o re-infarto e morte.
No estudo Women's Health Initiative (WHI) - o mesmo que ligou reposição hormonal e câncer de mama - a dieta com redução de gordura não demonstrou redução em infartos do miocárdio ou acidente vascular cerebral. Outro estudo, uma meta análise conduzida por Siri-tarino e colegas com mais de 340.000 pessoas não associou o consumo de gordura saturada com doença cardíaca. E mesmo outro estudo (Cochrane meta-analyses) que relaciona a redução da gordura saturada com redução do risco de problemas cardíacos, isso não se demonstra com a redução no consumo total de gordura.

No final do editorial o Dr James J DiNicolantonio faz o seguine resumo:

Recomendações dietéticas baseadas em evidências de literatura

A recomendação dietética para a substituição da gordura alimentar por carboidratos e óleos poliinsaturados não refletem evidências na literatura científica publicada;
Uma mudaça nessas diretrizes é urgentemente necessária pois população geral pode estar sob riscos;
O aumento nas taxas de diabete e obesidade nos Estados Unidos é causada pelo consumo de carboidratos e não de gordura saturada;
O temor público de que a gordura saturada eleva o colesterol é totalmente infundado, assim como a distribuição das partículas de colesterol LDL pioram quando se troca a gordura por carboidratos;
Não existem provas de que a dieta de baixo teor de gordura tenha qualquer efeito positivo para a saúde das pessoas. De fato a literatura aponta para um falta generalizada de qualquer efeito com a redução de gordura alimentar;
Uma campanha de saúde pública é necessária para educar as pessoas sobre os perigos do consumo de carboidratos; e
Seria ingenuidade imaginar que essas recomendações sobre teor de gordura ou carboidrato se apliquem aos alimentos processados, que sem dúvida devem ser evitados tanto quanto possível. 

Na sua conclusão o autor diz que os benefícios das dietas com pouca gordura estão sob grande contestação e que as diretrizes alimentares precisam estar alicerçadas na totalidade das evidências científicas e que as recomendações para a substituição de gordura saturada por carboidratos e poliinsaturados precisam ser reconsideradas.

Assim quando for comprar produtos alimentares no supermercado evite aqueles cujos rótulos dizem que é desnatado, semi desnatado ou zero % de gordura - além de serem alimentos que não existem na natureza, eles podem ser prejudiciais ã sua saúde! 


Link do artigo original com todas as referencias necessárias: AQUI  

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